A fragmentação é o fenômeno de surgimento ou ato de criar um novo alter no transtorno dissociativo de identidade (TDI) ou outro transtorno dissociativo especificado (OTDE-1). Existem teorias conflitantes sobre como isso ocorre, nenhuma das quais por si só descreve adequadamente todos os tipos de fragmentação, mas a combinação delas o faz.
A Dissociação Estrutural
A teoria mais recente e bem aceita de como os alters são criados é a da dissociação estrutural. De acordo com esta teoria, os alters são criados quando nenhuma parte existente pode integrar novos materiais (por exemplo, memórias, emoções fortes, percepções, estilos de apego) porque esses materiais são demasiadamente ameaçadores ou são percebidos como em forte conflito com o que já existe. Com o tempo, esses materiais são usados juntos com frequência suficiente para se integrarem a um novo estado de identidade. Isto parece descrever com precisão como o TDI é criado pela primeira vez e como novos alters são formados em resposta a novos traumas, altos níveis de estresse ou outras experiências devastadoras. Os alters que se formam desta forma começam do zero e não têm o benefício de começar com as características de outro alter como base. Por outro lado, isto pode permitir elevados níveis de especialização. De acordo com a teoria da dissociação estrutural, os alters criados em resposta ao trauma são partes emocionais (PE), enquanto aquelas criadas para lidar om em resposta a aspectos da vida diária são partes aparentemente normais (PAN).
Teoria tradicional – Fragmentação
Na teoria mais antiga, a fragmentação ocorre quando um alter existente (ou, no início, uma criança aterrorizada e traumatizada) nega o que está acontecendo com ele; nega e rejeita suas próprias memórias, pensamentos, emoções, percepções ou reações; ou nega que seja o indivíduo presente em um determinado momento (ou seja, convence-se de que outra pessoa está presente e está realizando qualquer experiência com a qual não consegue lidar). Esta teoria pode ter relevância para a criação de alters que relatam que vieram de um alter existente e que assumiram visivelmente características, memórias, percepções, opiniões, habilidades, talentos ou uma função do outro alter de uma forma que pode ou não alterar o alter original. Por exemplo, se o Alter A for confrontado por um trauma do qual ele não tinha consciência anteriormente, ele pode se fragmentar em um Alter B não apenas para manter esse trauma, mas também para protegê-los de qualquer compreensão posterior do trauma e, possivelmente, para manter suas próprias características ou ações. que agora associam ao trauma (como raiva, quaisquer lembranças envolvendo os pais do indivíduo, força física ou a tarefa de colocar o corpo para dormir à noite). Neste cenário, o Alter B pode ser mais ou menos semelhante ao Alter A e pode ou não ver o Alter A como sua fonte ou responsabilidade primária.
Desenvolvimento de Alters
Novas fragmentações podem ou não ser imediatamente desenvolvidas. Os alters que derivam de uma ou mais fontes à medida que se dividem podem ter mais substância ou ser capazes de ganhar substância rapidamente, mas muitas novas fragmentações a princípio parecem desorientadas, despersonalizadas, vazias, planas ou incompletas. Esses alters, que podem conter apenas uma única função ou emoção primária, podem ser chamadas de fragmentos.
Os Alters tornam-se mais desenvolvidos e vão além da sua criação original à medida que experimentam mais, interagem com mais pessoas e têm a oportunidade de reagir de novas maneiras. Este processo é conhecido como “elaboração”. Em alguns casos, os alters podem ser claramente diferenciados de alguns outros alters, mas parecem altamente semelhantes a alters que lidam com um “tema” semelhante, como um sistema contendo um conjunto de partes que são pequenas variações de uma parte que lida com sentimentos de rejeição. Para indivíduos com OTDE-1, todas as partes de um sistema podem ser muito semelhantes ou altamente restritas em seus papéis, emoções ou reações.
De qualquer forma, alters adicionais geralmente são resultado de estresse extremo. A mente não gosta de ser fraturada mesmo quando um indivíduo já tem TDI ou OTDE-1. Muitos indivíduos não podem se fragmentar a menos que uma fragmentação seja estritamente necessária para a sua proteção, funcionamento ou capacidade de permanecerem ocultos como sistema.
Polifragmentação
Dito isto, há exceções. Alguns indivíduos podem ficar tão acostumados a usar a fragmentação como mecanismo de enfrentamento que podem se separar facilmente em resposta a estresses aparentemente menores. Por exemplo, se um indivíduo achar que ir ao médico é desencadeante, pode ocorrer o surgimento de um fragmento que exista apenas para comparecer a consultas médicas. Em alguns casos, os sistemas podem estar tão desestabilizados que até mesmo o processamento de traumas leva à criação de novas partes. Isto pode ser especialmente verdadeiro para indivíduos com TDI que são polifragmentados ou que apresentam um número anormalmente grande de alters.
Os sistemas polifragmentados são melhor descritos no artigo “A Fenomenologia e o Tratamento do Transtorno de Personalidade Múltipla Extremamente Complexo” de Kluft (1988), embora Braun também tenha contribuído para as primeiras pesquisas sobre polifragmentação e tenha sido quem cunhou o termo para se referir a sistemas com 100 ou mais partes dissociadas.
Deve ser lembrado que nenhuma parte pode conter algo que não esteja disponível ao indivíduo; para usar um exemplo claro e extremo: não se pode criar um alter para ser médico se o sistema não tiver formação médica, ou num nível mais realista, não pode ser criada uma parte que possa curar automaticamente o sistema ou lidar com todos os problemas atuais do sistema se as habilidades de enfrentamento e os desejos para fazê-lo ainda não estiverem presentes no sistema.