O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é frequentemente comórbido com o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Verificou-se que entre 48,5-70% das pessoas com TDI também atendem aos critérios para TPB, 26-76% das pessoas com TPB atendem aos critérios para transtornos dissociativos e que 2,5-27% das pessoas com TPB atendem aos critérios para TDI. No entanto, deve-se ter cuidado ao diferenciar Transtorno de Personalidade Borderline de Transtorno Dissociativo de Identidade.
Diagnóstico
O DSM-5 fornece os seguintes critérios para o diagnóstico de Borderline (TPB):
Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
- Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado, excluindo comportamento suicida ou de automutilação, já coberto pelo critério 5.
- Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
- Perturbação da identidade: autoimagem ou da percepção de si persistentemente instável e acentuada.
- Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar), também excluindo comportamentes no critério 5.
- Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
- Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias).
- Sentimentos crônicos de vazio.
- Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (por exemplo: demonstrações frequentes de irritação, raiva constante e brigas físicas recorrentes).
- Ideação paranóide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos (American Psychiatric Association, 2013)¹
Sobre os critérios
O critério 1 refere-se ao intenso medo em relação à rejeição, separação, ou abandono pelos amigos, família, relacionamento amoroso, ou por estranhos. A separação iminente percebida pode levar a mudanças na auto imagem, afeto, cognição e comportamento. Indivíduos com TPB são altamente sensíveis a essas percepções e podem reagir até mesmo a separação temporária e necessária ou a mudanças de planos com intenso medo ou raiva. O abandono percebido pode ser interpretado como um sinal de sua própria desvalorização.
O critério 2 refere-se a idealizar potenciais cuidadores ou amantes no primeiro ou segundo encontro, acreditando que seu relacionamento será perfeito e eterno antes que o outro indivíduo passe a vê-lo como mais do que um conhecido. O indivíduo com TPB pode compartilhar detalhes íntimos no início do relacionamento e querer passar o máximo de tempo possível com a outra pessoa. No entanto, aparentemente sem aviso, a idealização pode se transformar em desvalorização, e o indivíduo com TPB poderá ter a sensação de que a pessoa não se importa o suficiente, dê o suficiente, ou passe tempo o suficiente com ele. Indivíduos com TPB podem ser muito atenciosos, sensíveis e carinhosos, mas muitas vezes ficam facilmente magoados quando sentem que o outro não está tendo a mesma consideração por eles. Suas opiniões sobre os outros são muitas vezes extremamente “preto no branco” ou “oito ou oitenta” e podem passar a desvalorizar os indivíduos que não conseguem corresponder aos seus padrões de cuidado ou que consideram propensos a abandoná-los em breve.
O critério 3 refere-se a mudanças repentinas e dramáticas na autoimagem. Estas mudanças podem estar associadas a mudanças de objetivos, valores, opiniões, sexualidade e tipos de amigos desejados. Toda a personalidade do indivíduo pode parecer mudar de repente. A autoimagem para aqueles com TPB geralmente é negativa, mas em ambientes não estruturados ou sem relacionamentos significativos, os indivíduos com TPB podem sentir como se não existissem.
O critério 4 refere-se a comportamentos impulsivos e prejudiciais, como compras, jogos de azar e sexo desprotegido ou promíscuo, uso de substâncias, dirigir muito acima do limite de velocidade ou enquanto distraído, ou compulsão alimentar.
O critério 5 refere-se a atos de automutilação (cortes, queimaduras, cutucar feridas, pele ou cabelo, privação de comida, etc.) e ameaças, gestos ou tentativas de suicídio. 8 a 10 % dos indivíduos com transtorno de personalidade borderline completam tentativas de suicídio com sucesso, e ameaças ou tentativas malsucesidas são muito comuns. Essas ameaças ou tentativas são, muitas vezes, respostas a rejeições reais ou percebidas ou a expectativas de aumento de responsabilidade. A automutilação pode ser usada como forma de autopunição ou para evitar a dissociação.
O critério 6 refere-se a alterações intensas de humor que interrompem períodos de disforia com episódios de raiva, pânico ou desespero ou episódios de satisfação, energia e alegria e admiração infantis. Episódios negativos são frequentemente reações a estressores relacionados ao relacionamento.
O critério 7 refere-se a frequente sentimento de vazio, tédio e insatisfação. Isso pode estar relacionado a comportamentos em busca de risco e resultar em sentimentos de não ter relacionamentos significativos.
O critério 8 refere-se a explosões de temperamento intensas e que podem ser percebidas como incontroláveis. Isso pode se manifestar como forte sarcasmo, amargura ou explosões verbais ou físicas. A raiva é frequentemente dirigida aos cuidadores que atualmente estão sendo desvalorizados pelo indivíduo com TPB. No entanto, uma vez terminadas as explosões, o indivíduo muitas vezes reage com forte e desproporcional vergonha, culpa e uma sensação de ser uma pessoa má.
O critério 9 refere-se a sintomas dissociativos, como desrealização, que muitas vezes não são graves ou frequentes o suficiente para justificar um diagnóstico de transtorno dissociativo. Na maioria das vezes, esses sintomas são uma resposta ao abandono. Alucinações distorções da imagem corporal ou paranóia também são reações possíveis ao estresse extremo.
Indivíduos com TPB muitas vezes se autossabotam, especialmente quando um objetivo está diretamente ao alcance ou foi reconhecido pelos outros. Eles podem se sentir mais confortáveis com animais ou objetos do que com outras pessoas. Eles podem ter dificuldade para manter um emprego, concluir seus estudos ou iniciar e permanecer em um relacionamento estável ou casamento (American Psychiatric Association, 2013) ¹
O transtorno de personalidade borderline está associado ao abuso infantil, negligência, famílias hostis ou abandono parental. Transtornos depressivos e bipolares comórbidos, transtornos por uso de substâncias, transtornos alimentares, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de déficit de atenção /hiperatividade são comuns, assim como outros transtornos de personalidade. O TPB é 5 vezes mais comum em parentes de primeiro grau de outras pessoas com o transtorno e também é mais provável em famílias com indivíduos com transtornos por uso e substâncias, transtorno de personalidade anti-social e transtornos depressivos ou bipolar ¹.
Prevalência e Tratamento
Estima-se que o TPB afete entre 1,6-5,9% da população. De acordo com o DSM-5, “essa prevalência é de aproximadamente 6% em contexto de atenção primária, cerca de 10% entre pacientes de ambulatórios de saúde mental e por volta de 20% entre pacientes psiquiátricos internados.” (American Psychiatric Association, 2013)¹, embora alguns especulem que os homens com o transtorno sejam sub diagnosticados ou, em vez disso, sejam diagnosticados com outros transtornos de personalidade.
O tratamento para TPB é possível. As melhorias são frequentemente visíveis no primeiro ano de terapia e, após 10 anos de terapia, cerca de metade dos indivíduos que foram diagnosticados com TPB não atendem mais a todos os critérios para o transtorno. O aumento da estabilidade muitas vezes surge naturalmente com o avanço da idade (American Psychiatric Association, 2013)¹
O transtorno de personalidade borderline deve ser diferenciado de transtornos depressivos e bipolares, outros transtornos de personalidade, alterações de personalidade devido a outra condição médica, transtornos por uso de substâncias e problemas de identidade associados à adolescência (American Psychiatric Association, 2013)¹
Referências
¹ American Psychiatric Association.Transtornos de Personalidade in Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª edição, 2013. Disponível em: <http://dsm.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/appi.books.9780890425596.dsm18>
REUBEN, K. Borderline Personality Disorder. Dissociative Identity Disorder Research, 2015. Disponível em: <https://did-research.org/comorbid/pd/bpd/>
Tradução: Sistema Pandora
Revisão: Sistema Cogs