Critérios Diagnósticos
O DSM-5 fornece os seguintes critérios para o diagnóstico de transtorno de despersonalização/desrealização:
a) A presença de experiências persistentes ou recorrentes de despersonalização, desrealização ou ambas:
1. Despersonalização: Experiências de irrealidade, distanciamento ou de ser um observador externo com relação aos pensamentos, sentimentos, sensações, corpo ou ações da pessoa (por exemplo, alterações de percepção, senso de tempo distorcido, eu irreal ou ausente, entorpecimento emocional e/ou físico).
2. Desrealização: Experiências de irrealidade ou distanciamento com relação ao ambiente (por exemplo, indivíduos ou objetos são vistos como irreais, como em sonhos, nebulosos, sem vida ou visualmente distorcidos).
b) Durante as experiências de despersonalização ou desrealização, o teste de realidade permanece intacto.
c) Os sintomas causam angústia clinicamente significativa ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras áreas importantes do funcionamento.
d) O distúrbio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (por exemplo, uso de drogas, medicação) ou outra condição médica (por exemplo, convulsões).
e) A perturbação não é melhor explicada por outro transtorno mental, como esquizofrenia, transtorno do pânico, transtorno depressivo maior, transtorno de estresse agudo, transtorno de estresse pós-traumático ou outro transtorno dissociativo (American Psychiatric Association, 2013)¹
O Critério A esclarece que o transtorno de despersonalização/desrealização envolve sentimentos de despersonalização (como a sensação de que a pessoa não é real ou não está conectada ou no controle de seus pensamentos, sentimentos, sensações, corpo ou ações; Isso pode envolver alterações na forma como a pessoa percebe a realidade, como vivencia o tempo, como conceitua a si mesma ou como vivencia emoções ou sensações físicas) e/ou sentimentos de desrealização (como se o mundo ao redor da pessoa não fosse real ou relevante para ela; isso pode envolver o fato de o mundo parecer irreal, como em sonhos, nebuloso, sem vida ou distorcido).
As pessoas que sofrem de despersonalização podem sentir que não têm identidade, ser capazes de reconhecer, mas não de vivenciar emoções, sentir seus pensamentos como estranhos e não próprios, sentir-se desconectadas de todo o corpo ou de partes específicas do corpo, ou ser incapazes de registrar ou compreender sensações como toque, fome ou sede. Eles podem se sentir robóticos e fora de controle, ou podem ter uma “experiência fora do corpo”, na qual se sentem como se estivesse testemunhando suas próprias ações como um observador passivo.
As pessoas que sofrem de desrealização podem sentir que o mundo, as pessoas, os objetos inanimados ou todos os arredores são irreais, desconhecidos ou distantes. Podem se sentir como se estivessem em um sonho, neblina ou bolha, ou como se estivessem separados do mundo ao seu redor por um vidro ou véu. O mundo ao redor pode parecer incolor, sem vida ou artificial, e outras distorções visuais relacionadas a embaçamento, campo visual, planicidade ou distância podem estar presentes. As distorções auditivas podem fazer com que as vozes sejam percebidas como mudas ou agudas.
O critério B especifica que a despersonalização ou desrealização não se deve à psicose. O indivíduo que está sofrendo despersonalização ou desrealização é capaz de entender que suas experiências não são objetivamente verdadeiras. Entretanto, o indivíduo pode não entender a causa de suas experiências e, portanto, atribuí-las a “enlouquecimento” ou possível dano cerebral.
O Critério C exclui sentimentos ocasionais de irrealidade ou alterações perceptuais que não sejam angustiantes ou disfuncionais. Episódios transitórios de despersonalização ou desrealização que duram de horas a dias são comuns na população em geral, mas apenas 0,8% a 2,8% das pessoas em todo o mundo realmente atendem aos critérios do transtorno.
O Critério D exclui a despersonalização e a desrealização causadas pelo uso de substâncias, abstinência de substâncias ou convulsões. Entretanto, algumas substâncias ilícitas podem desencadear o transtorno de despersonalização/desrealização que dura um período significativo de tempo na ausência de uso de outras substâncias. Se o início dos sintomas ocorrer após os 40 anos de idade, deve-se considerar uma condição médica subjacente. O transtorno de despersonalização/desrealização geralmente começa durante a adolescência, embora possa ter início na primeira ou na segunda infância. Raramente começa tão cedo que a pessoa não consegue se lembrar da vida sem esse transtorno ou depois dos 25 anos. O início após os 40 anos é muito incomum.
O Critério E exclui a despersonalização e a desrealização causadas por outro transtorno mental. Os transtornos de ansiedade costumam ter comorbidade com o transtorno de despersonalização/desrealização ou conter características dissociativas, mas esse último não é um exemplo de transtorno de despersonalização/desrealização. Episódios de despersonalização ou desrealização que ocorrem somente durante ataques de pânico devem ser considerados como aspectos de um transtorno de ansiedade. O entorpecimento emocional, a apatia e os sentimentos de irrealidade devido ao transtorno depressivo maior não justificam um diagnóstico de transtorno de despersonalização/desrealização. Na ausência de testes de realidade, deve ser diagnosticado um transtorno psicótico. Se os sintomas de despersonalização/desrealização ocorrerem no contexto de outro transtorno dissociativo, esse diagnóstico terá precedência (por exemplo, um indivíduo com transtorno dissociativo de identidade que tenha episódios de desrealização seria diagnosticado apenas com TDI, embora um indivíduo possa ser diagnosticado com amnésia dissociativa e transtorno de despersonalização/desrealização, pois esses transtornos não apresentam sobreposição de sintomas).
O início pode ser repentino ou gradual, e os episódios podem durar de horas a anos. O estresse ou fatores ambientais podem desencadear episódios ou exacerbar os sintomas. Embora o trauma de infância esteja associado ao transtorno de despersonalização/desrealização, essa conexão não é tão forte quanto a de outros transtornos dissociativos. O transtorno é frequentemente associado a estresse grave, depressão, ansiedade e abuso de substâncias (American Psychiatric Association, 2013)¹.
Há também evidências de que a meditação pode desencadear a despersonalização ou a desrealização em alguns indivíduos (Lustyk, Chawla, Nolan e Marlatt, 2009).²
Referências
1 – American Psychiatric Association. (2013). Dissociative Disorders. In Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). http://dx.doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596.dsm08
2 – Lustyk, M. K. B., Chawla, N., Nolan, R. S., & Marlatt, A. (2009). Mindfulness meditation research: Issues of participant screening, safety procedures, and researcher training. Advances in Mind Body Medicine , 24(1), 20-30.
TRADUZIDO POR: Sistema Pulga
REVISADO POR: Sistema Orquestra